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O Grupo Primeiro Comando Theatral (PCTH) volta á mídia virtual... Agora São Oito Anos de PCTH. O tempo Passa!!! E nós, como vinho, estamos cada vez melhor, aguardem nóticias....

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ESPERANDO O QUE MESMO?


POR WELLINGTOM BRAGA




A vida é absurda? Os dois vagabundos de Beckett não são absurdos, mas um nosso retrato, algo distorcido, imagem de um espelho em que não nos queremos ver.

O ateu Beckett fala em Deus. Não é tão ateu assim. Tem que provar que Deus é cruel. Não está em questão a existência de Deus, mas a sua justiça – como a entenderíamos se é de Deus? Se nós, homens, somos tão complexos? Deus não nos fez anjos, mas esta complexidade de matéria e espírito, loucura e ternura, razão e estupefação? Quereríamos ser anjos? Para o bem ou para o mal, para a salvação ou a danação.

Vladimir e Estragon se interrogam sobre Deus e a salvação de suas pobres almas. Não acreditam nem em Deus nem nas almas – mas por que então se interrogam? “Você acha que Deus está me vendo?” A pergunta é infantil, mas é a mesma que nos fazemos. A resposta parece mais ingênua: “Você tem que fechar os olhos”. Se não existisse, Beckett não estaria preocupado com a salvação: “Um dos ladrões foi salvo. É uma porcentagem razoável”. Apesar da brincadeira, ou por isso mesmo: quando não temos respostas, levamos na brincadeira. “E se a gente se arrependesse? De quê? De ter nascido”.Novamente a brincadeira, santa válvula de escape. Mas não se pode negar a preocupação com uma além-existência, a alma e Deus. Como “Existir dói, mas por que não se abotoar? Não se deve ser desatento com as pequenas coisas”. Como não temos respostas, dizemos que tudo é relativo. Como se fosse uma desculpa razoável: “Que tal se a gente se enforcasse? É um modo de se masturbar. A gente goza? Completamente. E onde cai, nascem mandrágoras. É por isso que elas gritam quando a gente as colhe”.

“Esperando Godot” é pleno de humor, mas o riso é proibido. “Você me faria rir, se não fosse proibido”. A vida é trágica. “Eu vou me acostumando ao esterco à medida que piso nele”. Sempre à espera de uma impossível resposta. À espera de Deus. Godot seria um pequeno Deus? E se Godot não vier? Vejam que não se discute essa hipótese. Godot vem. Estamos acostumados ao esterco, mas “o essencial não muda nunca”. Como Estragon e Vladimir, um dizendo para o outro: “Então, vamos?” E o outro respondendo, como se fosse inevitável: “Vamos”. E os dois não saem do lugar. A única ação é o pano que cai.

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